Autoestima
Domingo, 21 de maio de 2017
00:11
Autoestima é sempre de você para fora, de nós
para os outros, ou outro, mas nunca diz respeito a nós mesmos. São questões
relacionadas a expectativas construídas do que "vem de fora", relacionadas
a como nos vemos e imaginamos que o outro vê ou deveria ver sobre nós!
O segredo da autoestima alta está justamente
em não ter que ter alta estima. Não há compromisso com nada que não seja
conosco e com o que definimos como essencial para nós e em nós. Isso significa
desistir de fazer acontecer, e aceitar o que É. O quanto podemos, limita-se ao
quanto nos é possível, mas, e principalmente, ao que queremos de fato tornar
possível, para, e acerca de nós e de quem somos! Isso é simplesmente aceitar a
própria limitação e as limitações que a vida e a existência impõem ao homem.
Biológica, intelectual, social, intima e especificamente também! Aceitar que há
o externo, o imponderável, o imprevisível, tanto na natureza física, quanto na
natureza humana, entendendo que isso acontece devido a constantes e
irremediáveis mutações e transformações que independem do nosso querer, dos
nossos planos, ideias, medos, etc. que não são nada mais que a tentativa de
garantir o prazer idealizado e fugir da possibilidade da ocorrência de
"contrariedades". Exemplos: A aparência física, nível intelectual,
condição social, relação ideal, realização profissional, etc. são padrões
idealizados e que podem ser buscados de forma saudável, progressiva, constante
e motivadora, desde que aceitas as condicionantes e limitantes citadas
anteriormente. Não é possível encontrar autoestima, estabilidade, alegria
duradoura, felicidade, numa vida onde a construção de ideais finais,
definitivos, únicos e imutáveis sejam a razão desse existir. A razão de existir
tem que ser o próprio existir, o fazer, as coisas como são, pura e
simplesmente, diárias, sem atenção com passagem do tempo, prazos,
envelhecimento, padrões, expectativas, etc. Uma vida em que expectativas são
"o motivo", é automaticamente transportada para o futuro, ou presa em
frustrações passadas e será então, uma vida onde cada ideal construído e não
realizado, passa a ser um "peso", uma carga de negatividade e
pessimismo, insegurança e desconforto perenes, arrastada todos os dias. Do
mesmo modo, uma vida onde ideais se constroem para o futuro, mesmo que em
"vidas futuras" (especialmente nesses casos), representa não uma
motivação, senão uma fonte de ansiedade, “futurização”, contagem do tempo,
espera, expectativa, cobrança, etc. Nesse sentido, a vida diária jamais será a
vida ideal, jamais será satisfatória, jamais terá nossa atenção integral,
jamais será integralmente prazerosa, sendo apenas e tão somente uma forma de
"gastar" o tempo que falta, até que os ideais sejam alcançados. Lembram-se
das mudanças acontecendo em tudo o tempo todo? Não haverá percepção dessa
mudança, porque em verdade, quando nos atemos a pensar o passado ou o futuro,
logicamente, não estando presentes, não haverá mudança alguma, simplesmente
porque quem somos não existe ainda. Como desenvolver autoestima alta em quem
nem existe anda? Se não nos aceitamos, se não nos consideramos prontos, como
iremos gostar de nós?
Imaginemos uma casa, sem pintura, sem
decoração e acabamento. Por mais que a arquitetura seja interessante,
confortável, moderna, funcional, o que sempre predominará aos olhos de quem a
vê, será justamente o que lhe falta. Seus proprietários verão isso, antes e
mais que qualquer outra pessoa no universo. No entanto, já é uma casa, com
muito a oferecer. O olhar, não de negatividade, de incompletude ou pessimismo,
mas, de rejeição em favor de uma imagem idealizada para fora, imagem que
considera o olhar externo, considerando o ideal final, não apenas relega o que
já está feito em algo de menor relevância, como impede o desfrute integral
desse já existente. Note-se que essa "incompletude" pode ser vista
até mesmo como motivação, se o olhar for de alegria e realização constante. Com
a autoestima dar-se-á na mesma medida, o olhar de uma busca por perfeição, ou
transformação com vistas ao devir. Não se trata de acomodar-se, de sentar-se no
sofá da sala, aceitando o "destino" ou o dia do "juízo
final"! É exatamente o contrário. Olhar não para o que não temos ou
estamos buscando como única vida a ser vivida, é ir na contramão de qualquer
sensação equilibradora, estabilizadora, ir ao encontro da ansiedade e
frustração perenes. Não haverá o dia em que tudo estará perfeito? Isso não é
verdade! Todos os dias são perfeitos! A vida sempre é e será perfeita! Algo em
nós não atende esse padrão idealizado de perfeição. Algo em nós não aceita as
"imperfeições" como motivadoras, como molas propulsoras, como o
"tempero" da vida, o que a faz instigante e misteriosa, surpreendente
sempre, em possibilidades e de fato! Queremos que tudo e todos, inclusive nós
mesmos, jamais tenhamos qualquer problema de qualquer natureza, física,
emocional, social, etc., e na busca por esse ideal, nosso olhar se volta apenas
para o que nos falta, para o "quantum" de "imperfeição".
Ora, se apenas virmos o que nos falta, não
veremos jamais o que já temos. Não há estima alta possível assim!
Autoestima alta é desistir de autoestima
baixa! Autoestima alta é desistir de alterar o exterior, desistir de ser para o
outro, desistir de depender de aprovação, desistir de depender e criar metas
que não conduzam à própria satisfação imediata ou mesmo futura, desde que
construída na satisfação do agora. Entender a diferença entre orgulho, vaidade,
prepotência e independência. Só quando se abre mão daquelas se alcança essa, e
só quando se abre mão de idealizar, de remar contra a própria essência da vida,
que não é nada senão existir, se consegue LIBERDADE!
E Liberdade é não precisar de autoestima, nem
baixa nem alta! Não precisar de poder ainda que podendo exercê-lo, visto que
poder sempre se exerce sobre o outro e tudo que está no outro já é dependência.
Escraviza mais, a necessidade de escravizar!
Julio Miranda